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Depressão e Migração

    A depressão é uma doença multicausal que, geralmente, atinge o organismo como um todo, podendo comprometer o indivíduo na sua totalidade, afetando por assim dizer a sua vida emocional, física e social. Ela é caracterizada por uma tristeza profunda e sem fim, com uma perda de interesse generalizado, falta de ânimo, de apetite, ausência de prazer e oscilações de humor que podem culminar em pensamentos suicidas. Ponderando, no entanto, que esta seja uma definição geral da doença, visto que a depressão pode variar de acordo com o grau que ela atinge a pessoa, ou seja ela pode acontecer de forma leve, moderada ou mais grave, conforme a manifestação dos sintomas.

    Muitos estudos atuais consideram que a depressão tem a sua causa na combinação de fatores biológicos, psicológicos e ambientais. Sabe-se que os fatores bioquímicos têm um papel relevante no aparecimento de um quadro depressivo (e isto provavelmente tem um peso maior no fato das mulheres serem mais afetadas pela doença, já que o ciclo hormonal destas varia ao longo da vida). O ambiente em que a pessoa vive também tem uma força grande sobre o seu bem-estar e o seu adoecimento. A forma como cada indivíduo reage aos problemas do cotidiano ou a momentos delicados vividos ou ainda como lida com os seus sentimentos também pode ser considerado como papéis significantes no aparecimento de uma depressão.

    Embora a depressão seja um tema antigo, o transtorno já foi descrito na Grécia Antiga, sendo chamado de melancolia, o assunto ganhou uma força significativa no mundo contemporâneo por diversos motivos. Um deles é, com certeza, a busca maior pelo tratamento, contribuindo assim para quebrar todo tabu que ainda envolve a doença e para a precisão de um diagnóstico mais efetivo.

    Outro fator é o estresse da vida diária, que normalmente vem acompanhado pela imposição de ser feliz, de ter uma vida extremamente bem-sucedida e quem não ”consegue” atingir estas metas consequentemente é marginalizado. E finalizando, temos também a internet e suas exigências para se manter constantemente conectados e a necessidade de muitos em apresentar uma “vida de comercial de margarina”, aonde novamente, a vida perfeita e o ser feliz são mais do que predominantes. E muitos colocam estas vidas perfeitas como metas a serem alcançadas. Estando assim em constante processo de insatisfação pessoal e/ou de mutilação de suas necessidades para alcançar este objetivo de uma vida idealizada.

    Agora junte-se a estes motivos o fato de você estar vivendo fora do seu país de origem. O processo de migrar acarreta mudanças significativas nos nossos valores, comportamentos e referências. A adaptação à nova cultura nem sempre se faz da maneira mais suave e sem experiências negativas. Lidar com este choque de encontro com o novo e a busca pela reafirmação da sua identidade pode muitas vezes levar o imigrante a desenvolver diversos problemas de saúde, inclusive uma depressão.

    O processo de migração vem atrelado de perdas consideráveis. As mudanças vividas são extremamente marcantes e profundas. O imigrante se vê confrontado com um espaço completamente novo. Todos os seus referenciais são colocados num lugar distante, tudo que o cercava antes muda. Viver estas perdas pode se tornar um processo de luto diário e reconstruir a sua história uma necessidade constante.

    Muitos irão conseguir estabelecer uma história de integração bem-sucedida com este novo país, se adaptando à nova cultura e aos novos costumes sem perder a sua essência e suas raízes. Outros, no entanto, vão viver este estranhamento de tudo de uma maneira muito dolorida. E assim para estes últimos, estranhar a si mesmo, aos outros, ao ambiente, ao ser o estranho, tudo isto faz com que o transcurso da migração acabe por promover o adoecimento e neste momento a depressão toma uma força grande e tem um campo fértil para se instalar.

    Assim, levando em consideração os parágrafos acima, quando se faz uma busca nos estudos sobre depressão, principalmente em países com um histórico ativo de imigração, percebe-se que a população migrante é constantemente mais afetada pela doença do que a população local. E assim poderíamos dizer que imigração e depressão podem estar bastante interlaçadas. E um olhar cuidadoso e profissional é notadamente importante para resultados mais positivos tanto para o bem estar do imigrante quanto para o processo de integração.